Era uma vez um velho Árabe chamado Abdullah, que tinha um pequeno quiosque onde vendia panquecas.
As panquecas de Abdullah eram famosas em toda a cidade e as pessoas vinham de longe para se deliciar com esta famosa iguaria.
Abdullah, herdou o quiosque de Abdul, seu pai, que por sua vez o tinha herdado do dele, que também o tinha herdado do dele…
O negócio das panquecas tinha alimentado os Abdul, geração após geração. Abdullah tinha um sonho secreto. Queria poder um dia desenvolver o negó-cio e levar as suas panquecas aos quatro cantos da cidade!
Para poder realizar o seu sonho, decidiu enviar Adib, o seu filho mais velho, para uma das mais conceituadas Universidades da Europa, a fim de que estudasse e aprendesse economia e as artes de gerir negócios.
Durante os anos de estudo de Adib, seu pai continuava a sonhar com o desenvolvimento do negócio das panquecas. .
Todas as manhãs, procurava os ingredientes de melhor qualidade e quando fazia as panquecas esmerava-se na sua apresentação.
Quando abria o seu quiosque vinha para a entrada da porta e gritava: “Venham provar as minhas panquecas”, “são as melhores de toda a Ará-bia”, “Venham!” “Venham!”
Os clientes, divertidos, vinham, provavam, gostavam, e depois, entusias-mados, falavam com os seus amigos acerca da qualidade das panquecas de Abdullah.
O negócio corria de feição. Abdullah esforçava-se tanto quanto podia e sabia para que a qualidade do seu produto fosse cada vez melhor.
Chegou por fim o tão esperado dia de regresso do filho e, Abdullah mal con-tinha a sua ânsia de poder partilhar o seu sonho com Adib.
No dia seguinte, de manhã bem cedo, após a oração matinal, foi com gran-de alegria que Abdullah falou ao filho do seu projecto.
Com o habitual respeito, o filho ouviu o que o pai tinha para lhe dizer, mas quando Abdullah lhe perguntou a sua opinião, Adib respondeu: “Mas, pai; Há uma enorme crise económica no mundo! Não tens ouvido ou prestado atenção às notícias? Em todo o lado há cada vez mais empresas que fecham e gente sem trabalho! Actualmente, não é adequado investir ou procurar desenvolver qualquer negócio. A crise atinge toda a gente provocando fome e miséria e, irá certamente também atingir-nos a nós”.
Abdullah procurou argumentar e dizer ao filho que as panquecas se ven-diam bem, que no mês anterior ainda tinha tido mais clientes, que tinha sido possível pagar as despesas de toda a família, dos seus estudos durante todos estes anos e ainda de amealhar dinheiro para a realização deste pro-jecto e… e… e…
Adib continuou com os seus argumentos dizendo ao pai que, os estudos que tinham feito o levavam a concluir que seria loucura por em prática este negócio.
Abdullah, sentiu vacilar a sua vontade, pensando que o filho após todos estes anos de estudo saberia certamente bem mais que ele; Talvez Adib tivesse razão…
Naquele dia, com o sonho e a alma desfeita, Abdullah, triste e cabisbaixo, acabou por vender menos panquecas do que o habitual. Durante a noite, mal dormiu.
Teria o filho razão no que dizia acerca da crise? Ele passou todos estes anos a estudar por isso deve saber!
Na sua labuta mental, nas suas interrogações e dúvidas, chegou a hora de ir abrir o quiosque. Abdullah estava cansado, desmoralizado, magoado, sem saber o que fazer.
Das panquecas que fez nesse dia, algumas ficaram demasiado cosidas, outras meias cruas, tortas ou sem apresentação. Irritado, achou que o seu produto não tinha qualidade e por isso não devia apregoar as suas panque-cas tal como era habitual.
Alguns clientes mais costumeiros ao ver o seu ar triste, perguntaram: Então Abdullah, o que aconteceu? Ficaste velho de ontem para hoje? Acon-teceu-te alguma desgraça? Abdullah, ia disfarçando o seu descontentamen-to o melhor que podia e, a alguns em quem tinha mais confiança lá ia reve-lando o segredo de que o filho lhe tinha falado. “O mundo está em crise”, “vem aí uma grande desgraça”.
Os dias foram passando. Abdullah, receoso e contrariado, passou a não se esmerar tanto na qualidade das suas panquecas.
Já não apregoava cada manhã para chamar os clientes, os quais passaram a vir em menor quantidade. Abdullah estava cada vez mais convencido de que o filho tinha razão. A crise estava à porta. A crise era cada vez maior.
Cada dia que passava menos clientes tinha.
Por vezes ficavam panquecas por vender.
Abdullah acabou por concluir que o filho era um génio. Sem ele teria prova-velmente perdido tudo o que tinha!
Teve que fechar o quiosque. Mas do mal, o menos; podia ter sido pior!
A crise não perdoa!
O filho, lá sabia!
Carlos Marques
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